A felicidade é um estado durável de
plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o
sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou
sentimentos que vai desde o contentamento até a alegria intensa ou
júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar
espiritual ou paz interior. Existem diferentes abordagens ao estudo
da felicidade - pela filosofia, pelas religiões ou pela psicologia.
O homem sempre procurou a felicidade. Filósofos e religiosos sempre
se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou
estilo de vida levaria à felicidade plena. Mas, com certeza nada tem
a ver com hedonismo ou culto ao prazer dos sentidos.
A felicidade é o que os antigos gregos chamavam
de eudaimonia, um termo ainda usado em ética. Para as emoções
associadas à felicidade, os filósofos preferem utilizar a palavra
prazer. É difícil definir, rigorosamente, a felicidade e sua
medida. Investigadores em psicologia desenvolveram diferentes métodos
e instrumentos, a exemplo do Questionário da Felicidade de Oxford,
para medir o nível de felicidade de um indivíduo. Esses métodos
levam em conta fatores físicos e psicológicos, tais como
envolvimento religioso ou político, estado civil, paternidade,
idade, renda etc.
Evolução histórica das reflexões sobre a felicidade
Zoroastro, místico que teria vivido por volta do
século VII a.C. na região dos atuais Irã e Afeganistão, criou uma
doutrina religiosa, o zoroastrismo, que se baseava numa luta
permanente entre o bem e o mal. O bem incluiria tudo o que fosse
agradável ao homem: beleza, justiça, saúde, felicidade etc.. No
final dos tempos, haveria a vitória definitiva do bem. A missão dos
homens seria a de procurar apressar essa vitória final, através de
uma conduta individual correta.
Aproximadamente na mesma época, na China, dois
filósofos apontaram dois caminhos para se atingir a felicidade: Lao
Tsé defendeu que a felicidade podia ser atingida tendo, como modelo
de nossas ações, a natureza. Já Confúcio enfatizou o
disciplinamento das relações sociais como elemento fundamental para
se atingir a felicidade.
A felicidade é um tema central do budismo,
doutrina religiosa criada na Índia por Sidarta Gautama por volta do
século VI a.C. Para o budismo, a felicidade é a liberação do
sofrimento, liberação esta obtida através do Nobre Caminho
Óctuplo. Segundo o ensinamento budista, a suprema felicidade só é
obtida pela superação do desejo em todas as suas formas. Um dos
grandes mestres contemporâneos do budismo, o dalai lama Tenzin
Gyatso, diz que a felicidade é uma questão primordialmente mental,
no sentido de ser necessário, primeiramente, se identificar os
fatores que causam a nossa infelicidade e os fatores que causam a
nossa felicidade. Uma vez identificados esses fatores, bastaria
extinguir os primeiros e estimular os segundos, para se atingir a
felicidade.O dalai lama defende a autorreflexão como caminho para se
atingir a felicidade
Mahavira, um filósofo indiano contemporâneo de
Sidarta Gautama, enfatizou a importância da não violência como
meio de se atingir a felicidade plena. Sua doutrina perdurou sob o
nome de jainismo.
Para o filósofo grego Aristóteles, que viveu no
século IV a.C., a felicidade estaria no equilíbrio, na harmonia.
Isto incluía ter consciência do que mantém o indivíduo em
equilíbrio. Epicuro, filósofo grego que viveu nos séculos IV
e III a.C., defendia que a melhor maneira de alcançar a felicidade é
através da satisfação dos desejos de uma forma equilibrada, que
não perturbe a tranquilidade do indivíduo. Pirro de Élis, também filósofo grego contemporâneo de
Epicuro, também advogava que a felicidade residia na tranquilidade,
porém divergia quanto à forma de se alcançar a tranquilidade.
Segundo Pirro, a tranquilidade viria do reconhecimento da
impossibilidade de se fazer um julgamento válido sobre a realidade
do mundo. Tal reconhecimento livraria a mente das inquietações e
geraria tranquilidade. Este tipo de pensamente é, historicamente,
relacionado à escola filosófica do ceticismo.
Outra escola filosófica grega da época, o
estoicismo, também defendia a tranquilidade (ataraxia) como o
meio de se alcançar a felicidade. Segundo essa escola, a
tranquilidade poderia ser atingida através do autocontrole e da
aceitação do destino.
Jesus Cristo defendeu o amor como o elemento
fundamental para se atingir a harmonia em todos os níveis, inclusive
no nível da felicidade individual. Sua doutrina ficou conhecida como
cristianismo e é uma das maiores divulgadoras da felicidade como um
estado interior de alma.
Maomé, no século VII, na Península Arábica,
enfatizou a caridade e a esperança numa vida após a morte como
elementos fundamentais para uma felicidade duradoura, eterna.
O cristianismo, após a morte de Jesus,
aprimorou-se institucionalmente e dividiu-se em vários ramos. Um
deles, o catolicismo, produziu muitos filósofos famosos, como Tomás
de Aquino, que, no século XIII, descreveu a felicidade como sendo a
visão beatífica, a visão da essência de Deus.
O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau defendeu
que o ser humano era, originalmente, feliz, mas que o advento da
civilização havia destruído esse estado original de harmonia. Para
se recuperar a felicidade original, a educação do ser humano
deveria objetivar o retorno deste à sua simplicidade original.
Na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, os
filósofos Jeremy Bentham e John Stuart Mill criaram o utilitarismo,
doutrina que dizia que a felicidade era o que movia os seres humanos.
Segundo o utilitarismo, os governos nacionais têm, como função
básica, maximizar a felicidade coletiva. É exatamente aí que entra
o conflito gerador da infelicidade. Se não se obtém as coisas
materiais “úteis” à sua felicidade, o indivíduo torna-se
incompleto e infeliz, como se algo estivesse faltando em sua
constituição, o que não é propriamente uma verdade, mas uma
impressão.
O positivismo do filósofo francês Auguste Comte
(1798-1857) enfatizou a ciência e a razão como elementos que
deveriam nortear o ser humano na busca da felicidade. Esta felicidade
seria baseada no altruísmo e na solidariedade entre todo o gênero
humano, formando a chamada "religião da humanidade". O
filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu o estabelecimento de
uma sociedade igualitária, sem classes, como elemento fundamental
para se atingir a felicidade humana.
O psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), o criador
da psicanálise, defendia que todo ser humano é movido pela busca da
felicidade, através do que ele denominou princípio do prazer. Porém
essa busca seria fadada ao fracasso, devido à impossibilidade de o
mundo real satisfazer a todos os nossos desejos. A isto, deu o nome
de "princípio da realidade". Segundo Freud, o máximo a
que poderíamos aspirar seria uma felicidade parcial. A psicologia
positiva - que dá maior ênfase ao estudo da sanidade mental e não
às patologias - relaciona a felicidade com emoções e atividades
positivas.
A economia do bem-estar defende que o nível
público de felicidade deve ser usado como suplemento dos indicadores
econômicos mais tradicionais, como o produto interno bruto, a
inflação etc.
Estudos científicos recentes têm procurado achar
padrões de comportamento e pensamento nas pessoas que se consideram
felizes. Alguns padrões encontrados são:
capacidade de
adaptação a novas situações
buscar objetivos
de acordo com suas características pessoais
riqueza em
relacionamentos humanos
possuir uma forte
identidade étnica
ausência de
problemas
ser competente
naquilo que se faz
enfrentar
problemas com a ajuda de outras pessoas
receber apoio de
pais, parentes e amigos
ser agradável e
gentil no relacionamento com outras pessoas
não
superdimensionar suas falhas e defeitos
gostar daquilo que
se possui
ser autoconfiante
pertencer a um
grupo
independência pessoal