O ofício do
escritor é muito difícil e distinto do que hoje se apresenta pelas
livrarias e net, nos blogs e redes sociais. Hoje, qualquer um (acha
que) pode escrever ou (pensa que) sabe escrever. Hoje? Há um século
atrás, Schopenhauer já tinha observado isto e comentado em seu
livro sobre o ofício do escritor. “Ha dois tipos de escritor”,
diz ele, “os que escrevem por amor ao assunto e os que escrevem por
escrever.”
Uns escrevem porque sabem que têm algo a dizer e passar
para seus leitores; os segundos escrevem por vaidade e/ou dinheiro,
por isso lhes faltam razão e precisão no que escrevem, além de
estilo. A maioria, naquele tempo mencionado pelo filósofo, e
sobretudo hoje, escreve para se exibir, para aparecer com um valor
que não cultivou e não possui e tentam tirar disso algum valor
pessoal ou monetário. Alguns lançam mão de artimanhas para se
tornarem virais e explodirem da noite para o dia como um gênio na
internet, e serem comprados e vendidos como um best seller. Ficam à
espera das grandes corporações editoriais que fabricam escritores e
livros sensacionais de uma hora para outra, em troca de milhões de
dólares!Só quem é movido pelo amor à Literatura ou ao assunto que
domina é que pode realmente tocar o leitor, marcá-lo
definitivamente. De resto, não passam de opiniões e comentários
tão comuns e solicitados nos sites sociais da net.
Mas os
meios de comunicação de massa adoram vender essa falsa literatura,
descartável, literatura de aeroporto, de leitura fácil e de
sensações imediatistas, como boa literatura. Assim, o gosto e a
crítica do leitor vai se deformando aos poucos até se apagarem por
completo. Tudo vira um fenômeno de manipulação de massa. Essas
grades corporações de editoras determinam até mesmo qual o assunto
do ano a ser vendido e veiculado como se fosse uma expressão do
escritor e um anseio do leitor. Com pouca concorrência, lançam no
mercado e vendem não só os best seller mas os similares até
esgotar o assunto e o gosto do consumidor, ou a paciência do leitor.
A exemplo
disso tivemos livros baseados em seriados televisivos de terror e
suspense, serial-killkers, a grande saga de vampiros para todos os
gostos, espíritos malignos , íncubos e súcubos de todos os tipos
como a série Crepúsculo e Diários de um Vampiro que além de
estourarem nas livrarias estouram nas bilheterias, porque tudo hoje
tem derivações comerciais diversas. Agora mesmo, o assunto do dia,
é a sexualidade feminina que está em alta com fantasias do tipo
sadomasoquista com tons de cinza escuro, claro e que já produzem
seus tentáculos com tons de prazer , luxuria entre outros. Tudo
planejado num gabinete, ou seja, pior que no século de Schopenhauer.
Pensado e articulado por grandes nomes da publicidade e do marketing
que nada tem a ver com Literatura ou Arte. Puro comércio, pura
merchandising... E os meios de manipulação acompanham o ritmo e
ajudam a vender esta má literatura, induzem, seduzem, incutem a
necessidade falsa no leitor-consumidor, dirigindo-o no sentido do
interesse capitalista.
Não existe
mais a figura do escritor amador da Literatura, da Arte da palavra,
cultivando o texto, multiplicando os significados nos inúmeros
significantes, criando abismos vertiginosos de significação que
preenchem o ser do leitor mais desavisado. Escritores que não se
preocupam apenas com a informação ou a mensagem mas em como ela vai
chegar até o leitor. Estes sim, os verdadeiros escritores de livros
e livros e não escritores de um livro só ou de um só dia.
É ainda
Schopenhauer que no diz neste seu livro que “honra y provecho no
caben nun saco” (honra e dinheiro não cabem no mesmo saco). E é
o escritor da arte de ter razão sem ter razão, livro que faz
crítica também ao ato de escrever principalmente filosofia ou
sistemas filosóficos, que nos diz apropriadamente - “a
consequência secundária disso é a deterioração da língua” a
que eu acrescentaria – a deterioração do gosto, do imaginário,
da sensibilidade e da verdadeira cultura.
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