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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Homenagem póstuma


Já faz quase um ano que se foi o grande escritor José Saramago. A notícia tomou-me de surpresa. Fiquei sem fala... sem palavras... queria escrever, homenageá-lo, saudá-lo, mas o nó na garganta impedia que as palavras fluissem. Nem sequer consegui reler alguns de seus geniais romances. Nem mesmo as crônicas ou comentários... E me calei. Saio agora de um luto literário por este inominável escritor português - o Nobel José Saramago e faço-lhe a minha homenagem.



A JOSÉ SARAMAGO

José Saramago nasceu em 1922.
Em 1922!
Aqui, em aquém -mar já tínhamos realizado
o polêmico movimento modernista
e as ondas foram levando
daqui pra lá a comoção
e os ventos marinhos salgando
a terra de Azinhaga
pequena aldeia que viu nascer
o menino sonhador
nascido como todos os outros meninos
um bebê como os outros
especial apenas para sua mãe.

Em 1922, nasceu José Saramago
leitor do mundo!
Leu e escreveu tudo que viu
e viveu.
José, tão (in)comum
nasceu em 1922
com tantos outros josés
escritores ou não
leitores muitos
nasceu quando Oswald de Andrade
(nome pouco português ou brasileiro)
fazia apologia linguística
da língua de aquém-mar
a mesma que sempre nos uniu
e nos permitiu conhecer no original
as histórias, os relatos, os comentários de
José Saramago!

E pois, em além-mar
nascia o menino em meio as estas efervescências linguísticas
e nacionalismos
socialismos
comunismos
tantos ismo a envolver
o menino José
o Saramago
que como Carlos
o anjo vaticinou ser gauche na vida!

José, o Saramago nasceu em 1922
e afirmou-se neste mundo
a golpes de pena mais que de seu ofício primeiro
e fez seu sobrenome
valer o nome
sinal de mérito em nossa língua
tão portuguesa onde
nome é nome
sobrenome é sobrenome
e não como no resto do mundo onde
nome é sobrenome
e nome-nome é quase nada
lembrança dos íntimos
ou dos familiares...

Mas José, fez-se Saramago
a custa da palavra bem escrita
da pena ousada
do olhar arguto
do tom satírico e irônico
muitas vezes indignado...
Fez-se Saramago
pela custa do livro lido
da biblioteca viva
do ofício diário
da busca constante
da fome insaciável
da indagação
e também da indignação
eternas!

O nome Saramago
é segundo os dicionários
etimológicos e ocultos
ousadia,
espírito competitivo,
independência,
força de vontade,
originalidade
sendo vero ou não
bem trovato e verdadeiro foi
neste José escritor.

E morreu no dia 18 de junho de 2010!
tão cedo ainda!
Por que não adiar para 2012?
quem sabe se as intermitências não tivessem acontecido fora de hora
e tivesse sido proclamada a ausência de morte em 2010 -
não teria morrido este escritor tão cedo?
Por que não fechar a vida com uma conta redonda:
morreu aos 90 anos....
quem sabe mais dois romances,
algumas tantas crônicas ou contos
quem sabe o que ficou por dizer...
ai, este silêncio aziaguo!
e quantos personagens não foram com ele?

Acompanharam-no, com certeza
num belo cortejo dos vivendos
Baltazar, Blimunda e o padre amigo
Joana Carde, Joaquim, Pedro e outros levantados
Ricardo Reis com seu vate-criador, é claro
fazendo as honras sem cerimônias
o outro grande português Fernando pessoa,
e todos os cegos da cegueira branca
e todos os lúcidos
Cipriano grato e sua filha
e mesmo Caim!
Todos vieram em cortejo
saudar o grande Saramago-criador
e mesmo Jesus, Jesus em pessoa
o Jesus humano que ele revelou
o único em que ele acreditou
co-autor do livro que lhe conferiu
o premio máximo
tornando Nobre sua literatura e sua língua!
Coincidência?
Não, aposto que Jesus leu e gostou
releu e aprovou
enfim, fizeram-lhe Justiça
um comunista, quem diria...
E o Verbo declarou: Faça-se Justiça a este escritor!
e assim se fez
tornaram Saramago Nobel
junto a tantos nobres nomes
eternizados na memória coletiva dos Homens.
Secretamente foi declarado Sir
com honras de cavalarias
o sr. da pena-espada!

Nasceu José Saramago em 1922
e morreu, sem aviso prévio
assim como um homem comum
no dia 18 de junho de 2010.
E que saudades ficarão!
Foi-se na sua Jangada de Pedra
nas costas de um Elefante
voando na máquina voadora do padre Bartolomeu
tomar um café
ou quem sabe comer uma dobrada à moda do Porto
mas não fria
regada a goles de um bom vinho
talvez um Xerez
com seu amigo português.