Estas duas palavras tiveram e têm diversos significados e
denotações ao longo da história do homem. Em cada época nos achamos capazes de
distinguir entre o que é real e o que não é real.
Ao olharmos antigas civilizações, tentamos reconstruir o que
consideramos real a partir de nossa experiência presente. Será isso a realidade
histórica? Como descrever a realidade de um homem pré-histórico ou mesmo um
homem medieval sem estar envolto naquela realidade? Conseguimos pensar como um homem do século XVII? Conseguimos saber como é viver num sociedade dita primitiva, com menos recursos? E a pergunta que fica: é realmente real a
história que nos contamos de nosso passado?
Há anos defendi uma tese que contrastava os discursos
histórico com o literário. Expus à banca 6 discursos entre históricos e literários e ninguém pode
classificar ou diferenciar um do outro. Ao contrário, ao arriscarem alguma
classificação, erraram. E por quê? Porque a realidade assim como a imaginação/ficção
coincide como objetos construídos pela nossa subjetividade. Logo, um romance
histórico pode ter mais de realidade que uma história dita oficial, dependendo
de quem paga ou sustenta o historiador ou mesmo, de sua própria visão
particular.
O mesmo acontece com essas cartas abertas que circulam pelas
redes sociais. É totalmente infantil e inconsequente tomar partido de qualquer
uma que seja, pois cada carta mostra uma visão particular, a expressão de um
sujeito. Quem pode dizer que a holandesa Snowden ou que o americano Mark Manson
está com a razão? Ou que um deles, e
tantos outros que já escreveram sobre nós, possa expressar e denotar nossa
realidade e a verdade dos fatos. Não se dá o mesmo com a imprensa? Jornais,
jornalistas que disputam o público apregoando uma verdade distinta da outra?
Entretanto, aqueles que postam e comentam, tomam partidos e
podem concordar com parte ou tudo que se diz. Com certeza, não será um
consenso, pois 2 subjetividades nunca coincidem 100%. As cartas passam a ser,
assim, instrumentos de manipulação, de marketing, de formação de opinião
pública e até mesmo de incitação de revoltas ou atitudes. Vídeos, flashes de
momentos, noticiário expostos como filmes de entretenimento incitam, mas nem
sempre expressam a realidade. E isso sem falar dos tabloides, dos jornalecos,
dos repórteres paparazzi e diversas espécies pessoas que gostam de alardear e
vender seu produto: eis aqui a verdade!
A História está cheia desses eventos. Guerras se fazem
assim, manipulando realidade, torcendo-as, pois não há sujeito que consiga
abarcar a realidade com todas as suas nuances a fim de que possa expor e
defende-la. Portanto, Mark está certo, Snowden está certa, Xang-Li está certa,
Thierry, Paul, Pablo... todos estão certos em suas visões.
Cada ser humano tem seu próprio campo de visão, seu
binóculo, seus antolhos, seu telescópio, seu buraco de fechadura. Hoje é
importante saber ouvir, ler e acatar o que o outro diz, a opinião de cada um,
sem conflitos, sem ter que apostar competitivamente quem está certo e quem está
errado. Não se trata de suplantar um ao outro e de se auto afirmar com razão. Este
é um difícil exercício de democracia, iniciado há milênios e ainda não
terminado. Acredito que não terminará nunca, pois diz respeito a nossa
humanidade que se constrói ao longo desses milênios junto com a expansão desse
mesmo universo. E não se trata de escolher esta ou aquela realidade mas saber o que cada uma representa ou mostra. Sair da Matrix significa exatamente isso: perceber as diversas nuances e extratos da realidade e não eleger uma realidade e combater as outras!
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