É comum o questionamento a respeito da nossa língua
materna. A maioria dos países
colonizados na idade moderna tem a mesma questão. Foram os românticos que
começaram com esse questionamento buscando uma expressão autóctone. Hoje, americanos,
canadenses, latinos de língua espanhola e nós nos questionamos a respeito do
nosso idioma. Alguns países da África e da Ásia também se voltam para esta
pergunta fundamental que se relaciona com a identidade.
Se refletirmos que o ato de descobrir, conquistar, dominar e
colonizar é tão velho quanto o mundo, mesma as chamadas línguas mãe da Europa
ou do Oriente padecem com os mesmos questionamentos. O ato de dominar um país
ou nação sempre foi acompanhado da afirmação e imposição do idioma do
conquistador. Logo a língua é um objeto político de sujeição, afirmação, dominação
como também de expressão, libertação, revelação. Dos romanos aos ingleses, dos
árabes aos portugueses, dos persas aos espanhóis, todos impuseram sua língua e
cultura no ato da conquista e da dominação. É o que chamam de colonização!
Um dos mitos mais antigos que se tem conhecimento que aborda
essa questão é o mito da torre de Babel presenta na mitologia judaica e
babilônica. Nele afirma-se que todos falavam uma só língua e que pela ousadia
do homem de querer chegar aos céus para conhecer os deuses, foram punidos com o
plurilinguismo e a tal torre enfim, não pode ser construída, já que cada
trabalhador passou a falar uma língua. Os Astecas sustentam a história de que
apenas um homem, Coxcox e uma mulher, Xochiquetzal,
sobreviveram à inundação, tendo flutuado em um pedaço de casca de árvore. Eles
encontraram terra e geraram muitas crianças que nasceram incapazes de falar,
mas, posteriormente, com a chegada de uma pomba foram dotados de
linguagem, embora a cada um tenha sido um modo de expressão vocal diferente.
Assim, eles não podiam se entender uns com os outros.
Em toda região do globo há um mito explicativo a respeito da
diversidade linguística. Aí está todo o
objeto da linguística histórica – afinal, tivemos mesmo um único idioma em
tempos imemoriais?
Podemos afirmar que há duas correntes que se antagonizam no
que tange às soluções. A corrente da unidade e a corrente da diversidade. A
primeira visa unir todas as diferenças e escolher um ponto comum – standart –
para que haja uma comunicação clara, uniforme e fluida entre os falantes em
qualquer ponto da nação. É a corrente que defende a importância da
gramaticalidade, da norma culta, do léxico apurado e da pronúncia correta. A
segunda prima pela diversidade sem se preocupar com um horizonte de comunicação
única. Valoriza as formas de expressão diferenciadas, os sotaques, os dialetos
a fim de manter a variedade e os elementos históricos do(s) idioma(s). Visa
também a manutenção do entendimento de documentos ou monumentos antigos para
uma melhor reconstrução do passado de uma coletividade.
As duas correntes têm suas razões e seus argumentos bem
fundamentados. Mas isso não justifica o que vemos acontecer hoje em dia nas
salas de aula com o nosso idioma (que muitos oscilam em defini-lo como língua
portuguesa ou língua brasileira). Toda língua tem seu uso formal e informal de
acordo com a situação, ambiente e propósito. Em todas encontramos jargões,
gírias, expressões específicas e falares de acordo com a classe social. A
internet não é a origem desse fenômeno, apenas evidenciou e generalizou o fato.
Mensagens rápidas economizam espaço e tempo; é comum que se abrevie e se
economize na “fala”. Porém, falar errado
não tem nada a ver com o escrever no messenger, facebook ou whatsap numa forma
contrata e descontraída.
Entretanto, esse fato – o abreviar as palavras, o escrever
como se fala, as gírias – nunca impediu de se respeitar, conhecer e cultivar a
norma culta para melhor transitar nas situações em que ela é essencial – fórum,
faculdade, mercado de trabalho, etc. Para isso o ensino da língua materna é
fundamental em qualquer parte do mundo. A escola é um espaço democrático que
recebe todas as formas de expressão, mas visa transformar essa forma, burilar e
aperfeiçoa para crescimento do indivíduo cidadão, visando seu crescimento
pessoal e social.
A crise e a confusão gerada parte dos burocratas da educação
e da política populista em voga atualmente em diversos países, não só no Brasil,
mais confundem e bagunçam o sistema educacional e os currículos do que auxiliam
com suas reformas massificantes, generalizantes e niveladoras por baixo. O
populismo, infelizmente, está espalhado em diversos países do terceiro mundo e
infestando o primeiro mundo também com sua ideologia de massa. Mas isso é
intencional no sentido do controle e dominação de todos e não no sentido
contrário como afirma a ideologia populista. Inclusão não é isso. Inclusão é acolher todo e qualquer indivíduo com sua cultura e expressão, mas dar a esse indivíduo os meios reais para participar da sociedade como um igual e conquistar um lugar no mercado de trabalho junto com os demais. O sistema de cotas é um elitismo disfarçado de inclusão.
E os professores? Alguns mal formados ou informados vão
repetindo sem questionar esse procedimento que desintegra o idioma e a
sociedade, pois uma nação é definida pela unidade de seu idioma. Há os
inseguros, os desinteressados e os desesperados e todos nada fazem para mudar o
atual estado do ensino da língua materna. Temem corrigir na fala e na escrita o
próprio idioma, salvo quando se aprende uma língua estrangeira. Este fato dá o
que pensar: por que eu corrijo um aluno que está aprendendo inglês, na pronúncia
e na escrita e não o corrijo no seu próprio idioma?
E os alunos são
apoiados a afirmar sua inocente ignorância pelas falsas mídias que preferem uma
juventude inerte e obsoleta que não consiga ler o próprio passado nem refletir
o seu presente que uma juventude pensante, conhecedora e atuante que consiga
construir um futuro melhor.
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