
Eu sempre defendi essa ideia e quando propus a um padre amigo meu , ele disse que era uma proposta perigosa. Na verdade, eu defendi e defendo o estado laico porque penso que, se formos éticos, a religião não tem função alguma na sociedade como instituição normativa. Aliás, ela nem deveria ser normativa; isso ficou há muito tempo atrás, num passado histórico.
A religião é uma espécie de estética, isto é, ela é da ordem do bom, do belo e do verdadeiro. Assim, cada indivíduo tem um sentimento a respeito desses temas, logo, cada um "veste" a religião que melhor considera ou que mais gosta. Tem que ter afinidade, tem que ressoar no seu interior. E acima de tudo, eu creio que religião tem que responder às questões mais profundas da alma humana, uma espécie de consolo ao mistério da Vida. O Direito com seus braços institucionais pode garantir a ordem na sociedade com a escritura e a vigilância das leis; a religião deve consolar, amparar, auxiliar.
Se observarmos bem o mundo, veremos que as instituições monoteístas não resolveram nenhum problema humano, ao contrário, incitaram e incitam conflitos e guerras devido a intolerância embutida na crença de uma só origem, uma só resposta, uma só possibilidade, um só deus. Vimos e vemos a intolerância de gênero, de raça, de cor baseada na ideias religiosas. Já se matou e morreu mais em nome de um deus que da descrença nele... sempre o excesso matou mais que a falta, ainda que seja o excesso de fé! Mesmo as religiões ditas politeístas, ou as que se escondem como apenas uma filosofia de vida, cerceiam o pensamento e o sentimento humano, pois também se unem às ideias intolerantes das maiores instituições do mundo,

Assim, penso que este livro, embora seja pequeno, algumas respostas de uma entrevista ao Dalai Lama, possa abrir a mente das pessoas com a finalidade de se repensar nosso estar no mundo de uma forma mais justa, mais produtiva e mais tolerante - realmente pacífica.